quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pegadas na Areia

Caminhava sozinho à beira-mar. O Sol já se tinha escondido para lá do rochedo… Ainda era de dia… Um vento vindo do Norte começava a soprar com alguma intensidade rapidamente sobravam apenas alguns pescadores amadores e solitários caminhantes de longe a longe. A maré estava muito baixa e uma grande planície de areia molhada e lisa tinha-se formado ao longo de toda a extensão da praia. Olhava para trás e, para além do rochedo que tapava o Sol, via toda a areia que se lhe seguia e onde se podia reconhecer um trilho grosseiramente rectilíneo das minhas pegadas… Estaria sozinho?... Não… Não estava porque imaginava-te aqui comigo… Um segundo trilho surge paralelo ao meu… E rapidamente imagino-te comigo… O teu corpo encostado ao meu, os teus braços agarrados a mim… Parámos um pouco… Sentámo-nos e encostaste-te a mim delicadamente. Eu deixei as minhas costas caírem na areia húmida e tu apoiaste-te no meu peito, onde deixaste a tua cabeça descansar. Acariciei-te a face, acariciei os teus lindos cabelos. Olhámos o céu azul, com tons de alaranjado a azul-escuro. A Lua, quase cheia, observava-nos sem pedir licença. Aquele ponto brilhante no Céu voltado a Sul, a que outrora chamara estrela, mas na realidade era apenas Júpiter também reluzia com grande brilho… Quando achava que era uma estrela, gostava muitas vezes de dizer que eras tu, a estrela mais brilhante do céu. Mas rapidamente o seu significado mudou… Enquanto planeta, representa a Natureza masculina, representa o meu amor por ti… E que ponto do Céu serias tu? Sem grandes dúvidas que serias a maravilhosa e misteriosa Lua… Com estas minhas palavras, voltaste a sentar-te e olhas para mim, calada, de olhos brilhantes… Cheguei-me a ti e dei-te um beijo cujo som não terá sido mais forte que o som de um canhão… Mas cujo eco foi decerto muito mais duradouro…Depois respirei fundo e disse-te apenas: “Amo-te”. Fizeste um ar sério e triste: “Não me podes amar… Só te vais magoar…”. Estranhei, mas respondi: “Magoar porquê? Não me importo de me magoar, se a minha vida só faz sentido contigo e não há outra forma, não há outro caminho. Aquelas pegadas que vês ali só fazem sentido juntas, porque nós pertencemos um ao outro…” Com isto fechaste-te sobre ti própria, agarraste os joelhos e escondeste a face neles… Não entendia o que estava a passar, mas aproximei-me de ti e acrescentei, baixinho, sussurrando: “Daria a minha vida só para poder viver outro momento como este…” Perante estas palavras, levantaste a tua face e, com uma lágrima escorrendo pela tua face disseste, entre soluços: “Não me podes amar, eu estou a morrer…”Eu não queria acreditar nisso, não podia ser verdade… Tu não podias estar a morrer… Era totalmente impossível… Eras tu… eu… Nós os dois… O nosso sonho… Não… Não podia ser verdade… Entre gemidos e lágrimas só me conseguiste dizer: “Tenho uma doença terminal e pouco tempo me resta… Só espero ter-te feito feliz com o meu amor… E deitaste-te a chorar, como uma criança, com a tua linda cara escondida na areia… Essa areia que já não estava molhada só pela água do mar… Também as lágrimas, as tuas lágrimas, as nossas lágrimas a molhavam… Em comunhão estivemos… Felicidade, Alegria, Euforia, mas também Desilusão, Angústia, Sofrimento, Desespero, Dor, … Numa voz rouca disseste-me “Amo-te” e beijaste-me… Nesse momento talvez tenha percebido o valor, o poder do amor, mas também um grande vazio associado… Eu ia-te perder… Levantámo-nos… O Sol já se tinha posto definitivamente e começava a ficar frio… Mesmo assim, abraçados, juntos e emocionados continuámos o nosso passeio… podia ser o último, mas decerto o mais valioso de todos… nunca damos valor às coisas, só quando estamos perto de as perder… Mas no meio desses pensamentos paraste, voltaste-te para mim e disseste: “Aconteça o que acontecer, o nosso amor nunca morrerá…” E isto é tão verdade… Se há coisa neste Universo que nunca morra é o Amor, a força mais delicada e poderosa de todas… E hoje, passeio na praia, olho para trás e vejo o Sol por trás do rochedo, e no areal um só trilho de pegadas na areia… um só porque te tenho nos braços, estás sempre comigo… eu nunca estarei sozinho porque estarás para sempre no meu coração.

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