quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Through the rain

Só lá estávamos nós os dois... Era um tarde fria e cinzenta de Inverno e a praia estava completamente deserta. O mar, enfurecido com um tempo tão triste desta maneira, batia-se com violência na areia e aí enrolava-se e um lençol de água suavemente acariciava a areia mais distante. As negras nuvens ameaçavam muita chuva. Mas mesmo assim quiseste ir passear, porque sabes que adoro este tempo, para além do mais sendo a praia, que sabes perfeitamente que a amo, seja de que forma, incondicionalmente... Descemos as escadas que davam acesso à praia, descalçámos os chinelos e sentimos nos nossos pés uma areia fria, muito fria e húmida que também adivinhava o tempo que viria e que já as nuvens à muito ameaçavam. O vento batia fortemente de Sul, parecendo querer puxar toda a chuva para aquele sítio, aquele momento...Mesmo assim quiseste passear, sabendo que muito provavelmente iria chover e que nos iríamos molhar, como eu avisara... Na areia apenas se viam raras marcas das pegadas das gaivotas porque todo o restante areal estava plano, liso e suave, como se alguém tivesse passado a mão por toda a praia para a deixar perfeita para nós a pisarmos. Começou a gotejar e aí disse-te: "Eu avisei... é melhor voltarmos para casa, não?" ao que me respondeste que não, que aquelas gotas não molhavam ninguém e que ficar em casa seria muito pior do que poder sentir toda esta dinâmica da Natureza... Andámos durante um bom bocado à beira-mar, fugindo da água que frequentemente nos queria molhar como que avisando: "Vão-se molhar, vão-se molhar todos!...". De repente o vento parara... e um trovão ouviu-se ao longe... Nisto agarraste-te repentinamente ao meu pescoço com o susto... "Não tenhas medo, está bem longe..." A trovoada estava longe, mas a chuva definitivamente não...Nesse instante, começava a chover, mas não era uma chuvinha ou só umas gotinhas... era chuva mesmo a sério, perfeitamente torrencial! Apenas dissemos em uníssono um ao outro: "Corre!". E corremos, corremos, corremos sem nunca mais parar, mas estávamos já muito longe de qualquer abrigo e naquele sítio nem as rochas serviam de abrigo. De repente, senti que não me acompanhavas na corrida... Olhei para trás e vi-te parada, à chuva, a sorrir... Percebi que não valia a pena correr, estávamos completamente encharcados. "Bem te disse que não devíamos ter vindo passear. Agora estás toda molhada e o passeio ficou estragado" Nisto respondeste: "Estragado?... Só se for para ti!... Nunca me senti tão feliz!..."Porque haveria ela de estar tão feliz? Estávamos molhados, encharcados, debaixo de uma chuva imensa e a um ou dois quilómetros de casa... "Estou feliz porque estou contigo e amo estar contigo, incondicionalmente...: à chuva ou ao sol, de dia ou de noite, no Inverno ou no Verão, tanto faz,... não me importa mais nada...". No meio de tanta humidade engoli em seco aquelas palavras, como se ainda fosse possível, e vi nelas um esboço perfeito de uma declaração... Sorri, abracei-te fortemente nos meus braços e disse-te ao ouvido: "Sabes bem o que sinto por ti, sabes perfeitamente..." E nisto afastaste-te o suficiente para ficarmos olhos nos olhos durante uns quantos minutos... Durante esse tempo pensei no quão bela eras, nesses teus olhos penetrantes, nesses cabelos brilhantes, mesmo que não estivessem molhados, brilhavam imensamente... e nesses lábios que começavam a tremer com o frio... Fechaste os olhos e elevaste a tua cabeça na minha direcção... Fechei os olhos e fiz o movimento inverso... até ao mais puro e divino contacto de todos... Nisto, a chuva parou e sobre nós uma neblina se esvanecia com uns tímidos raios de Sol a tocarem-nos entre as nuvens, cada vez mais dispersas... E só lá estávamos nós os dois, naquela tarde de Inverno em que o Amor e a Ternura a tornara numa prematura, mas linda, tarde de Primavera…

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